As cotas... Ah! As cotas!!

Bem-vindo ao assunto das últimas semanas. Interessante é perceber que o mesmo só entra em pauta de discussão quando alguém questiona a legalidade da mesma (seja na justiça ou na imprensa com a notícia de alguém que perdeu a vaga para um “cotista”).

E há os que se dizem contra as cotas raciais e a favor das cotas sociais. Eu sempre digo aos meus amigos que sou a favor da cota de 90% nas universidades públicas. Aposto que você acabou de fazer uma cara de espanto ao ler 90%. Acho triste pensar que as pessoas só pensam nas cotas por se sentirem prejudicadas pelas mesmas e ignoram o que deveria ser a real discussão: a educação no Brasil.

Eu sou a favor de uma educação de qualidade a todos, e não apenas aos que têm condições de pagar colégios particulares, cursos pré-vestibulares, e de línguas estrangeiras. E acho deplorável ver que há muitos que pensam no seu próprio umbigo na hora de pensar em quem merece o acesso ao Ensino Superior. Basta pensar que países como a Coreia do Sul cresceram muito quando houve uma revolução no ensino, começando pelo ensino básico (se você duvida, basta procurar informações sobre a educação naquele país).

Eu estudei o meu Ensino Médio em um colégio público, e se me virassem de cabeça para baixo, provavelmente não cairia uma moeda de dez centavos. Se não tivesse passado para uma universidade federal talvez não tivesse diploma de ensino superior, e hoje não estaria na fase final do meu mestrado. E antes que você pense, eu não fui beneficiada pelas cotas. Mas, ao fazer a graduação (em Administração), a coisa que mais me chocava tanto na universidade quanto nos processos seletivos de estágio, era notar que, quase sempre, eu era a única pessoa não branca, que não estudou em um colégio de tradição, a única que não possuía vivência no exterior. Mas, você me dirá: “Táti, ninguém disse que a vida é justa!”

Já ouvi que sou um bom exemplo de que o esforço vale a pena. Mas, que se implantarmos as cotas, a qualidade do Ensino Superior cairá. Quem passou pelas salas de uma universidade pública sabe que o ensino só cai quando um professor permite que isso aconteça. E a maioria que eu conheci não mudava o seu método de ensino quanto mais a cobrança da matéria dada. Bem, eu tive de correr atrás de coisas que eu não aprendi no Ensino Médio. Embora, fosse uma das poucas que não tinha um diploma de um cursinho de inglês (coisa que só consegui depois de entrar num estágio, quando consegui pagar), não deixei de ter as minhas leituras em dia.

Táti, e a meritocracia? Bem, se você acredita que o vestibular feito em muitas universidades é o melhor modo de avaliar um candidato, eu discordo. Conheci muita gente que passou a vida aprendendo a fazer as provas exigidas, mas não tinha uma grande capacidade de interpretar o mundo por si só, nem mesmo sabia escrever sem ajuda do corretor do Word Office. E, logo eu que tinha vindo de uma escola pública que tinha de passar o tempo corrigindo os erros de ortografia e pontuação dos outros.

Mas, não é justo! E a igualdade? Bem, eu também não acho justo uma pessoa ocupar vagas em duas universidades. E não considero correto uma pessoa dizer que faz uma universidade federal, mas só aparecer para fazer as provas das disciplinas. Ah! Já que alguns trazem a Constituição Federal para a discussão, principalmente sobre o artigo 5° (Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à IGUALDADE, à segurança e à propriedade) para justificar a sua posição contrária às cotas, lembrem-se que outros pontos da CF podem justificar a existência das cotas. Quais?

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. 
Art. 6º São direitos sociais a EDUCAÇÃO, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados

Eu não quero convencer ninguém que as cotas resolveriam os problemas. Eu acredito que a discussão deveria ser outra. E o que quero de verdade é que as pessoas pensem na educação antes de levantar qualquer bandeira a favor ou contra. Em vez de discutirmos o assunto que está bombando nas redes sociais, e culpar os outros pelo país não estar às mil maravilhas, é hora de refletir quais são as mudanças necessárias para o país. Eu recomendaria pensar em que tipo de educação estamos permitindo que seja ofertada aos jovens. Omissão nesse caso é a pior das opções.

Bem, e é isso!

Fui!

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